O prédio, originalmente erguido em 1971, foi recuperado, rebatizado
de Edifício Praça da Bandeira e reinaugurado em 1978. Apesar do passado
triste - e de várias lendas de assombrações -, está praticamente todo
ocupado hoje em dia, por escritórios de contabilidade, engenharia e
advocacia e empresas de call center, entre outras. Ali também funciona a
sede do PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab - o PSDB do
governador Geraldo Alckmin também já manteve comitês de campanha no
prédio.
Sócio-proprietário de uma empresa de contabilidade que desde 2005
funciona no Edifício Praça da Bandeira, Vicente Bersito Neto ri da
história que o levou para o ex-Joelma. "Acredite: o que me trouxe para
cá foi um incêndio", conta. Seu escritório anterior era no Edifício CBI
Esplanada, onde funciona o Instituto Fernando Henrique Cardoso, no Vale
do Anhangabaú, centro de São Paulo. Em janeiro de 2005, entretanto, uma
falha no sistema elétrico causou um incêndio ali - 68 pessoas foram
hospitalizadas por intoxicação, sem gravidade. "O prédio acabou
interditado por um tempo e ficamos sem escritório do dia para a noite.
Então, contatei um corretor, pedindo outro imóvel urgente", recorda-se.
O corretor - até hoje não se sabe se por ironia ou acaso -
ofereceu-lhe duas opções. A primeira, no Praça da Bandeira; a outra, no
Andraus - também no centro, onde um incêndio em 1972 deixou 168 mortos e
330 feridos. Vicente conta que a única preocupação foi com condições de
fuga. "Porque a memória que trago do outro prédio era do desespero que
foi demorar 25 minutos para conseguir evacuá-lo, sem saber direito a
dimensão do incidente", diz. Ele se mostra satisfeito com as condições
de segurança encontradas hoje no ex-Joelma.
Tabu. Se Vicente leva com bom humor essas histórias,
o mesmo não se repete na atual administradora do prédio. O Estado
tentou agendar uma entrevista com os responsáveis na quarta, justamente
para saber das condições atuais e do que mudou em 40 anos. "Ninguém aqui
está autorizado a dar entrevista, principalmente porque a imprensa só
fala da gente para se lembrar dessa tragédia", disse uma funcionária.
Para os atuais ocupantes do prédio, a localização parece ser o maior
trunfo. "Enumero como vantagens a mobilidade, a proximidade com o
terminal de ônibus da Praça da Bandeira, com estações de metrô de três
linhas, estacionamento no edifício, segurança contra incêndio. E o
edifício tem conjuntos comerciais bem iluminados e ventilados", afirma
Carlos Henrique Mazete, gerente de uma empresa de engenharia com sede
ali desde 2009.
Mas, entre tantas vantagens, lendas de assombrações persistem. Há
quem jure que isso ocorre porque no século 19 ali teria funcionado um
pelourinho. Durante o incêndio de 1974, 13 pessoas tentaram escapar por
um elevador e não conseguiram. Seus corpos, não identificados, foram
enterrados lado a lado no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina. Em 1948,
uma casa que ficava no mesmo terreno foi palco do Crime do Poço: um
professor de 26 anos matou a mãe e as duas irmãs e escondeu os corpos no
poço no quintal. Quando a polícia começou a escavar, o jovem pediu para
ir ao banheiro. Matou-se com um tiro no coração.
Estadão
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