Relatório divulgado nesta sexta-feira pela Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica (CCEE) aponta que o aumento da demanda no Sudeste
provocou elevação em 94% no preço médio da energia no Norte, o chamado
Preço de Liquidação de Diferenças (PLD). Ainda de acordo com a CCEE,
os limites de transmissão de energia do Norte para as demais regiões do
Sistema Interligado Nacional (SIN) foram atingidos em fevereiro. O preço
médio passou de 205 reais por megawatt-hora na última semana de
fevereiro para 400 reais na primeira semana de março.
O PLD é o preço da energia elétrica de curto prazo.Trata-se do
indicador usado para negociações no mercado livre, onde atuam grandes
indústrias e distribuidoras de energia — não o consumidor comum, cujo
fornecimento de luz é gerido no mercado regulado pelo governo.
O problema é que, como muitas distribuidoras precisam comprar
periodicamente no mercado à vista, a alta dos preços no mercado
livre poderá ter um impacto indireto na conta paga pela população —
aquela mesma que o governo afirmou ter reduzido no final de 2012. No
Sudeste, por exemplo, o PLD é de 822 reais desde o início de fevereiro. O valor só não aumentou para mais de 1 500 reais porque a regulação do setor prevê que o teto não ultrapasse 822 reais.
A região Norte é exportadora de energia e vem garantindo o
abastecimento das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste desde o
início da estiagem. E, como as perspectivas de chuvas para março não são
animadoras, o alcance do limite de transmissão é outro agravante para a
situação do setor elétrico no país.
Perspectivas — O Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) estima que as chuvas de março no Sudeste/Centro-Oeste,
principal região para abastecimento dos reservatórios das hidrelétricas
do país, devem representar 67% da média histórica para o mês, volume que
não deve trazer alívio nas preocupações sobre um eventual racionamento
de energia.
O ONS informou nesta sexta-feira que para março "prevê-se afluências
superiores às verificadas em fevereiro, em todos os subsistemas, embora,
apenas para o subsistema Norte, estejam previstas afluências superiores
à média do mês de março".
Em fevereiro, as chuvas no Sudeste/Centro-Oeste tiveram o segundo
pior volume do histórico e no subsistema Nordeste foi o pior volume já
registrado.
As previsões iniciais de chuva têm decepcionado nos últimos meses.
Para janeiro, a estimativa era de chuvas equivalentes a 96% da média
histórica, quando o que se realizou foi 54%, segundo o presidente da
Comerc Energia, Cristopher Vlavianos. Já em fevereiro, as chuvas devem
fechar em 39% da média histórica, quando a previsão inicial era de que
chovesse 55% da média.
Analistas do Citi escreveram em relatório nesta sexta-feira que com
as chuvas de fevereiro fechando a 39% da média histórica para o
mês implicaria necessidade de chuvas equivalentes a cerca de 90% da
média para que as reservas de água nos reservatórios não caiam abaixo do
mínimo nível de segurança em março a dezembro.
O diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego, considera
que se o nível dos reservatórios na região Sudeste não melhorar ao longo
do mês de março, mantendo-se no patamar atual de 35%, o país ficará
muito próximo do nível do racionamento de 2001. "E se chegar abaixo de
30% em março e abril, traz uma preocupação extrema, e o racionamento
fica quase inevitável", disse ele.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse em meados de fevereiro
que seria necessário chover 76% da média para os meses de março e abril
para que os reservatórios do Sudeste cheguem a um nível de 43% ao fim de
abril — o que asseguraria o fornecimento de energia.
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