A compra de um avião "zero-quilômetro" é bem diferente da de um
carro normal feito em linha de montagem. Os aviões não ficam prontos
para venda imediata e são construídos sob encomenda, com anos de
antecedência (carros de luxo também podem ser personalizados e
encomendados na fábrica, mas são exceção na indústria automobilística).
O UOL
acompanhou os últimos passos da entrega de um Boeing 737-800, comprado
pela companhia aérea brasileira Gol. Entre os testes realizados antes da
entrega final, um motor é desligado de cada vez durante um voo
experimental para checagem dos instrumentos.
O modelo retirado no mês passado faz parte de um lote encomendado pela Gol em 2008.
A fábrica da Boeing em Renton (região metropolitana de Seattle, EUA),
onde são montados os modelos 737, recebe os vários pedidos de empresas
ao redor do mundo, e vai encaixando em seu cronograma.
Aviões
naturalmente exigem tempo para serem construídos e não há aparelhos para
pronta entrega. A fábrica consegue fazer no máximo 42 aeronaves por
mês.
Pilotos conferem desempenho em testes de voo
Depois de montados, são feitos testes de voo antes que a Boeing entregue
o avião. O último deles é chamado de teste do cliente, em que pilotos
da companhia aérea (ou da própria Boeing, autorizados pela empresa
compradora) conferem o desempenho final.
É nesse teste em que um motor é desligado de cada vez durante o voo. O avião fica sem sistema hidráulico, para manobras só com cabos, no braço, sem ajuda dos
sistemas, para o piloto ver se é possível controlar tudo sem o auxílio
extra.
É como se um carro ficasse sem a direção hidráulica, muito mais duro de controlar.
A equipe que participa desse teste do cliente é formada em geral pelos
pilotos (dois comandantes e um primeiro oficial) e por um grupo técnico
com quatro integrantes: um engenheiro especialista em navegabilidade,
representante da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil); um engenheiro
que representa a empresa para receber o avião; um técnico de
planejamento, que passa os dados para o sistema da empresa; e um técnico
ou engenheiro como inspetor-chefe.
Esse inspetor é responsável
por fazer uma conferência geral: vê documentos, danos físicos,
vazamentos, reparos estruturais, seguindo uma lista de checagem da Anac.
Esse teste final dura no total cinco dias. Se houver qualquer problema,
ajustes são feitos pela Boeing.
Avião já sai da fábrica pintado com cores da empresa
Depois de aprovado, o avião passa oficialmente para a empresa que o
encomendou. A equipe de teste o leva diretamente da fábrica para o seu
destino no Brasil. O avião já sai de fábrica pintado com as cores da
companhia aérea.
No caso do avião da Gol, saiu direto da pista
de testes da Boeing rumo ao centro de manutenção da Gol em Belo
Horizonte (MG), onde a empresa fez adaptações de assentos.
O 737-800 não tem autonomia para voar direto dos EUA ao Brasil, então teve de parar em Caracas (Venezuela) para reabastecer.
Na entrega de um avião novo, um representante da aduana americana vai a
bordo, na pista da Boeing, para verificar documentos de passageiros e
saída de bagagens, já que a aeronave sai sem passar pelos controles
normais de aeroportos.
No voo inaugural de entrega, o avião vai vazio, só com os técnicos. Não há transporte de passageiros nessa viagem inicial.
Um avião não usa milhas, muito menos quilômetros, para medir seu uso.
Isso é feito pelo tempo de voo. Segundo a Gol, um Boeing é usado em
média por 42 mil horas, o que dá cerca de 12 anos no caso da empresa,
considerando 3.500 horas de uso por ano. O Boeing que a Gol foi buscar
em Renton tinha sete horas de voo quando foi entregue formalmente à
empresa.
(O jornalista viajou a convite da Gol e da Boeing)
Fonte: UOL
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