Thaisa Galvão - Deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa, governador do Estado em exercício, vice-governador eleito e rompido.
Robinson Faria, 55 anos, presidente do PSD no Rio Grande do Norte, candidato a governador.
Solitário pré-candidato, visitou 120
municípios do Estado tentando apresentar seu nome, pouco conhecido, às
populações de regiões onde não tinha bases como parlamentar.
Muitas vezes sem um líder para recebê-lo
em um município, perambulava com um assessor pelas praças e feiras onde
conseguia, no máximo, uma entrevista em uma emissora de rádio.
Com Robinson, o Blog
hoje dá continuidade à série de entrevistas que fará ao longo da
campanha que dá largada exatamente neste domingo, com os principais
envolvidos no processo de sucessão como candidatos, lideranças,
observadores da cena.
A primeira entrevista foi com a governadora Rosalba Ciarlini, quando ainda sonhava com o direito de disputar a reeleição.
Hoje a entrevista com o seu vice-desafeto que, no gira da roda-gigante da vida, poderá ter o seu apoio na eleição.
Eis a entrevista com o vice que quer
chegar ao Governo, disputando com a mega-estutura de uma coligação
formada por praticamente todos os partidos do Rio Grande do Norte, mas
que, segundo Robinson Faria, não o intimidam.
Robinson Faria - Não,
esse sonho foi evoluindo de acordo com a minha caminhada política.
Primeiro eu tive um papel no legislativo estadual, onde me elegi
deputado 6 vezes e consegui presidir a Assembleia Legislativa 4 vezes, 8
anos, e aí desenvolvi uma experiência mais no âmbito do executivo.
Mudando o perfil da Assembleia, criando programas inovadores, arrojados,
como a TV Assembleia, hoje em canal aberto, a Assembleia Itinerante, o
Instituto do Legislativo de qualificação do servidor que hoje atende ao
público de fora da Assembleia…a Assembleia Jurídica gratuita, Assembleia
Cultural. Programas totalmente inusitados para uma casa legislativa.
Essa é uma marca de Robinson Faria. E o sonho foi evoluindo também pela
minha presença permanente nas cidades, eu tenho uma essência muito forte
municipalista. Gosto de conhecer, de conviver, de viver o cotidiano das
cidades. Aí começou a nascer esse sentimento de um dia eu me tornar
candidato a governador. Mas eu não queria ser um candidato a governador
que nasceu de um partido forte, ou de forma verticalizada, ou de
padrinhos fortes ou de madrinhas fortes. Mas, que fosse na
espontaneidade, na legitimidade, e hoje eu me considero esse candidato
com o incentivo das ruas. Um candidato natural. Lógico que eu sonhei
muito que isso acontecesse, e a nossa candidatura hoje foi impulsionada
por pessoas anônimas. Não nasceu no seio da classe política.
Thaisa Galvão – Você já
tinha chegado perto do sonho quando se elegeu vice-governador em 2010,
com a governadora Rosalba Ciarlini com direito à reeleição. Chegou a
passar pela sua cabeça que você iria pular etapas e já seria candidato
na eleição seguinte?
Robinson Faria -
Naquele momento eu já havia lutado para ser candidato a governador em
2010. Em 2006 quando fui o deputado mais votado do Estado pela segunda
vez – 2002 e 2006 – quando fui o mais votado da história do Rio Grande
do Norte, primeiro deputado a ultrapassar o coeficiente eleitoral
sozinho, meu nome começou a ser lembrado para o Governo. Mas em 2010,
infelizmente, o grupo ao qual eu pertencia, não quis me apoiar e
terminei sendo vice de Rosalba, contribuindo de forma decisiva para sua
vitória. Naquele momento eu não pensava que seria candidato a governador
agora. Mas eu discordei do Governo, rompi, saí do Governo, passei a
fazer uma caminhada de oposição, ouvindo a população, visitando as
feiras livres, hospitais, penitenciárias, comerciantes. Visitei 120
municiípios do Rio Grande do Norte, atendendo chamamento e ficando perto
do povo. E com essa inha caminhada, aquele sentimento acumulado desde
2010, renasceu.
Thaisa Galvão – Foi aí que você começou a perceber que poderia vir a ser o sucessor da governadora?
Robinson Faria -
Exatamente. Esse renascimento do meu nome partiu das pessoas. Eu não
comecei a caminhar para ser candidato a governador. Comecei a caminhar
porque quem conhece o meu passado político sabe que eu sou assim. Sempre
tive uma marca muito forte de ser presente nas cidades. E as pessoas
começaram a se identificar quando eu discordava de algo, quando dava uma
entrevista apresentando propostas para saúde, segurança, as pessoas
começaram a ter essa identificação com meu nome. Eu tinha esse sonho e
busquei, e hoje me sinto amadurecido, me sinto preparado para ser
candidato, e me sinto preparado para governar o Rio Grande do Norte.
Thaisa Galvão – Quando você rompeu com o Governo já veio na cabeça que seria candidato a governador?
Robinson Faria - Não,
não veio porque eu não sabia qual seria a receptividade, a interpretação
das pessoas com o meu rompimento e com o novo momento político que eu
estava vivendo. Mas, logo depois as coisas começaram a acontecer.
Começou a ter uma torcida, as pessoas começaram a me incentivar, e isso
foi se intensificando. Não só a torcida, mas também o incentivo. As
pessoas chegavam pra mim nas cidades e diziam 'Robinson, não desista,
você tem que ser o nosso candidato a governador'. Então foi em respeito a
essas pessoas também que eu confirmei a minha candidatura.
Thaisa Galvão – Quando você
chegava nos lugares, sozinho, sem ninguém pra lhe receber, sem as
pessoas sequer lhe conhecerem em alguns casos, o que passava na sua
cabeça? Era um sonho só seu, o que você pensava?
Robinson Faria - Olhe,
buscando encontrar os cacos do sonho no chão das incertezas. Foram
caminhadas de muita ousadia e sobretudo de muita coragem, muita fe e
resistência que me fizeram ir adiante. Muitas vezes alguns políticos me
perguntavam, 'Robinson, vale a pena você ser candidato contra uma super
estrutura partidária que está se formando contra você? Não é melhor você
parar para pensar?'. E eu parava às vezes para pensar. As colocações de
prefeitos, alguns até amigos meus, me faziam parar e refletir, mas
quando eu voltava para a rua, para as cidades, as pessoas novamente me
incentivavam e renovavam minha esperança, meu encorajamento. Então foram
as pessoas que me ajudaram, o povo não deixou morrer dentro de mim, a
esperança e a coragem de ser candidato a governador. Não foi na classe
política que eu virei candidato a governador. Foi a partir das pessoas
anônimas.
Thaisa Galvão – Tinha cidade que você chegava sozinho, não tinha uma liderança para lhe receber…
Robinson Faria - Na
maioria das cidades. No começo não tinha ninguém pra me receber em
nenhum lugar. E nesses primeiros momentos de minha caminhada ninguém
dava dec;aração lançando meu nome para o governo. Nem prefeito, nem
ex-prefeito, ex-senador, senador, ex-governador…ninguém. Nenhum político
dos mais importantes do Estado falavam em meu nome para governador. Mas
isso não me intimidou, não diminuiu a minha motivação, não enfraqueceu a
minha caminhada. Em muitas cidades que eu chegava não tinha a casa de
um político para eu visitar, porque todos estavam, ou do lado do Governo
ou do lado do sistema liderado pelo PMDB. Mas eu ia na rádio, eu ia na
feira, eu ia no comércio, na praça. Isso me desafiava e o tempo inteiro
eu procurava encontrar uma forma de deixar uma mensagem naquela cidade.
Uma mensagem de convocação para resistir ao que estava acontecendo, aos
conchavos políticos entre quatro paredes; eu já sabia que estava sendo
maturado o acordão que hoje é uma realidade, na época estava sendo
desenhado. Então eu alertava as pessoas. E aí não foi nas estruturas
partidárias do interior que eu encontrei o cenário para ser candidato a
governador.
Thaisa Galvão – Sua solidão pelo Rio Grande do Norte lhe fez, em algum momento, sentir vontade de desistir?
Robinson Faria - De
desistir não porque as pessoas nunca deixaram esse sonho morrer. Mas eu
vivi um isolamento político muito grande, estava muito subestimado,
diziam até que eu era um político ameaçado, com a carreira em vias de
encerrar. Mas eu percebi que existia também a interpretação de um
cansaço, de uma desconfiança em relação a esses grupos que dominaram o
Rio Grande do Norte. Eu escutava das pessoas que essas pessoas famosas,
de sobrenomes famosos, tiveram a oportunidade de governar o Rio Grande
do Norte e o nosso Estado ainda não vive um bom momento, se comparado
com outros estados do Nordeste. Pelo contrário, o Estado involuiu. Os
indicadores sociais, econômicos, emprego, desemprego, o agronegócio,
saúde, educação, segurança que afundou, desenvolvimento,o turismo, então
as pessoas creditam que essasfamílias famosas, que se acham poderosas,
tiveram 50 anos para transformar o Rio Grande do Norte e o nosso Estado
não se transformou num grande estado como é hoje Pernambuco, Ceará,
Bahia e até o Piauí que era um estado tido como pobre e hoje está muito
na frente do Rio Grande do Norte na sua questão econômica e social.
Thaisa Galvão – Quando você
fala em famílias poderosas, a gente não tem muito conhecimento de
gestores que não tinham esses sobrenomes e que tiveram sucesso. Você não
teme ganhar a eleição e ser esmagado por essas famílias?
Robinson Faria - Não,
porque se eu for eleito, o meu governo será totalmente inovador. Quero
devolver ao povo um governo de diálogo. Acho que os governadores erraram
quando não dialogaram com a sociedade civil, não dialogaram com os
servidores. Na Assembleia Legislativa, o primeiro passo que dei como
presidente foi conquistar a confiança dos servidores da Casa, e com eles
nasceram projetos espetaculares para a população e para o Poder
Legislativo. Então eu vou governar dialogando com os servidores, com os
Poderes, com o setor produtivo, com os trabalhadores rurais. Um governo
de participação, onde o Orçamento será debatido, onde as políticas
públicas que forem encaminhadas para o Orçamento serão discutidas
antecipadamente como a questão da micro e pequena empresa, que o Rio
Gramde do Norte é o Estado com a maior carga tributária de toda a região
Nordeste e isso é muito ruim porque 90% dos empregos advém das micro e
pequena empresas e o nosso estado hoje tem um ambiente hostil para o
surgimento de novas empresas. Então, por conta de tudo o que eu estudei,
aprendi, eu me sinto preparado para fazer do Rio Grande do Norte um
estado líder, e não um estado a reboque.
Thaisa Galvão – Qual seria o segredo?
Robinson Faria - O
diálogo em primeiro lugar. Depois disposição, gestão, e equipe. E quando
eu falo em equipe, olhe que eu sou político há mais de 20 anos, mas a
minha equipe terá um perfil extremamente técnico. Muitos candidatos não
tem coragem de falar isso com medo de perder o apoio dos partidos
políticos que depois vão querer dividir o bolo. Eu não vou cometer essa
desfaçatez. Quando fui secretário de Recursos Hídricos e de Meio
Ambiente, no atual governo, eu montei uma equipe de excelência, toda
técnica, onde não tinha uma mulher de prefeito ou ex-prefeito ou filho
de prefeito. Ninguém do meu mundo político. Eu premiei a competência,
independente de lado partidário, independente de saber do passado, se
tinham votado em mim e Rosalba. Eu nomeei as pessoas com perfil ideal
para cada cargo. Montei uma equipe de excelência que, atendendo a um
prazo que estipulei, planejaram a Secretaria para os 4 anos de gestão. E
essa equipe foi elogiada por técnicos do Banco Mundial. Assim será o
meu governo, fazendo uma grande transição de governos conservadores para
um governo de modernidade. Já vamos planejar o Estado para 4 anos.
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