domingo, 10 de agosto de 2014

Cai o número de jovens que tiram título de eleitor

Se já era difícil convencer os jovens de 16 e 17 anos a votar, as manifestações de junho de 2013 tornaram essa tarefa mais árdua. A taxa de adolescentes dessa idade que tiraram título de eleitor um ano antes da data da votação diminuiu em um terço em 2014, se comparada à média dos três últimos pleitos presidenciais. Neste ano, apenas um em cada quatro jovens elegíveis para votar se alistaram, a proporção mais baixa do século até agora.

As manifestações interromperam uma curiosa regularidade do alistamento eleitoral dos jovens entre 16 e 18 anos. De acordo com a legislação brasileira, jovens nessa faixa etária podem votar se quiserem, mas não são obrigados. Desde o início do atual século, uma proporção constante desse contingente se registra para votação no ano anterior a cada eleição – uma taxa que fica um pouco maior nas eleições municipais que nas estaduais e federais.

Em 2008 e 2012, a taxa de adolescentes que tirou título de eleitor para votar para prefeito e vereador foi de cerca de 43% em relação ao total de jovens dessa idade, segundo cruzamento dos dados de alistamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os da projeção da população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas disputas de 2002, 2006 e 2010, a proporção ficou entre 36% e 37% em cada uma. Em 2014, o índice caiu para 26%.

Como a data-limite do registro para votar é até maio do ano da eleição, é impossível não relacionar essa queda às repercussões dos protestos de junho de 2013. Entre aquele mês e maio deste ano, 760 mil jovens deixaram de pegar seus títulos, em comparação com a quantidade que se alistaria caso a proporção das últimas eleições tivesse sido mantida. Só esse número já é quase o dobro dos 440 mil adolescentes com título de eleitor que se absteve e não compareceu às urnas em 2010.

“Todas as distorções da política brasileira apareceram de maneira muito forte nas manifestações”, diz o professor de Ciência Política da USP José Álvaro Moisés. Segundo ele, a falta de confiança dos jovens nas instituições políticas existentes no Brasil é uma das explicações de por que adolescentes que se engajaram em protestos hoje preferem não participar do processo eleitoral.

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