Do NE10
Cientistas anunciaram nesta
segunda-feira (4) que possuem evidências estatísticas para apoiar uma
nova teoria de que a infecção pelo vírus da Aids pode reduzir o risco de
esclerose múltipla (EM).
Eles descobriram que soropositivos ingleses são estatisticamente menos propensos a desenvolver a EM do que a população em geral.
Se trabalhos posteriores confirmarem este vínculo, este poderá ser um
grande avanço no combate à esclerose múltipla, escreveram os cientistas
no periódico Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry.
A EM é uma doença degenerativa que afeta o cérebro e o sistema
nervoso central, no qual o próprio sistema imunológico começa a atacar o
revestimento gorduroso isolante em volta das fibras nervosas.
Os sintomas variam de torpor e formigamento a fadiga muscular e espasmos, câimbras, náusea, depressão e perda de memória.
Em 2011, médicos reportaram o caso de um homem australiano de 26
anos, diagnosticado com EM alguns meses depois de ter a infecção por HIV
confirmada.
Esta pesquisa se seguiu a um estudo dinamarquês, que tentou verificar
se medicamentos anti-retrovirais podem tratar ou retardar o avanço da
EM, mas o tamanho da amostra era pequeno demais para se chegar a uma
conclusão sólida.
No estudo mais recente, uma equipe australiana chefiada por Julian
Gold, professor do Hospital Príncipe de Gales, em Sydney, analisou um
banco de dados britânico, descrevendo detalhes do tratamento hospitalar
na Inglaterra entre 1999 e 2011.
Durante esse período, mais de 21 mil pessoas que foram tratadas no
hospital tinham HIV. Elas foram comparadas com um grupo de cerca de 5,3
milhões de pessoas que não tinham HIV e foram tratadas de problemas
menos graves e ferimentos.
No grupo dos soropositivos, apenas sete pessoas desenvolveram EM nos
anos seguintes, muito menos que os 18 esperados, o que representou uma
redução de risco de quase dois terços.
Os autores admitiram a fragilidade de seu estudo, uma vez que eles
não tinham ideia, por exemplo, se os pacientes com HIV tomaram medicação
anti-retroviral para suprimir o vírus.
Eles especulam que a EM pode ter se abrandado porque o sistema
imunológico é recolocado no controle, embora novos trabalhos sejam
necessários para demonstrar se o benefício inesperado se deve ao vírus
ou a medicação usada para combatê-lo.
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