Quem politiza as investigações sobre o desvio de bilhões de reais da
Petrobras? A oposição, que cobra do governo que ajude a Polícia Federal a
desbaratar a mais poderosa e sofisticada organização criminosa jamais
vista na história do país? Ou o governo, que começou a acusar a oposição
de não querer descer do palanque com a intenção de disputar o terceiro
turno da eleição presidencial?
Os dois, oposição e governo. Natural. Política se faz assim. Quem
está fora do poder entrega a mãe, se for necessário, para alcançá-lo.
Quem tem o poder se mata vivo, mas não abre mão dele.
No caso brasileiro, o distinto público é convocado a cada quatro anos
para dizer quem deverá tocar o poder nos quatro anos seguintes. A
democracia é um regime imperfeito. Mas não há regime mais perfeito do
que ela.
Nesta terça-feira, a CPI mista da Petrobras se reunirá mais uma vez.
Seu prazo de funcionamento foi prorrogado até o início do recesso de fim
do ano do Congresso. Até aqui, a CPI não serviu para nada.
Ou melhor: serviu para confirmar o desinteresse do governo e da
oposição na descoberta de qualquer coisa capaz de incriminar corruptos e
corruptores. Dilma fala em apurar tudo “doa em quem doer”. Mas orienta
os políticos que a apoiam a não apurar nada.
A verdade verdadeira: assim como o governo, a oposição não quer
correr o risco de se denunciar, nem às fontes tradicionais de
financiamento de campanhas. Ninguém é trouxa, ora.
Estão presos 20 donos e executivos das nove maiores empreiteiras do
país. Oito delas, juntas, doaram para as campanhas eleitorais deste ano
algo como R$ 182 milhões. Doações declaradas à Justiça. Certamente
doaram outros tantos milhões por debaixo do pano.
A CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira acabou no ano passado quando
esbarrou no primeiro dono de empreiteira, Fernando Cavendish, da Delta
Construções. Esta agora? Faça sua aposta. Desconfio que ela custará as
máscaras do governo e da oposição.
Por Ricardo Noblat
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