Advogado Antonio Figueiredo Basto, que representa o doleiro Alberto
Youssef, disse ontem que o doleiro poderia ser condenado a até 300 anos
de cadeia, se não tivesse optado pela delação premiada, ou colaboração
com a Justiça, como ele prefere se referir ao acordo entre seu cliente e
a Justiça Federal do Paraná. A investigação é sobre desvios superiores a
R$ 10 bilhões da Petrobras.
Com o acordo, Youssef poderá sair do processo com uma condenação cuja
pena ainda não é estimada pelo advogado, mas que pode lhe garantir até a
prisão em regime aberto. Ele classifica a delação como um “fato
histórico”, pois com ela será possível desvendar um dos maiores
escândalos do país. Agora, ela espera que sejam atingidos também os
políticos que estavam por trás da corrupção na estatal.
“Beto (como chama o doleiro) era apenas um operador do esquema, assim
como Marcos Valério era o operador do mensalão. Se o operador sai,
entra outro, e a corrupção continua. Ele não era o mentor da corrupção
na Petrobras, pelo contrário. Aliás, meu cliente optou pela colaboração
processual exatamente tendo em vista o caso do mensalão, onde o operador
pegou uma pena de mais de 40 anos e os políticos pegaram penas bem mais
leves, e quase todos já estão em casa. Esperamos que, desta vez, seja o
contrário”, disse Basto.
Para o advogado, que tem o doleiro como cliente desde 2000, quando
negociou também a delação premiada no caso Banestado (Youssef poderia
pegar 478 anos de prisão e saiu “zerado”, sem pena a cumprir), seu
cliente está ajudando a desvendar a corrupção na Petrobras.
Basto lembra que Youssef já responde a quatro ações penais (da
Labogem, dos desvios na Petrobras, da lavagem de dinheiro na GDF e no
caso da CSA-Dunel), além de uma centena de inquéritos policiais:
“Cada empreiteira denunciada, cada empresário preso, virou um
inquérito. São centenas. E em todos está Youssef. Por isso, o acordo de
colaboração vai unificar todos os processos, o diminuirá sua pena.”
Basto disse que o doleiro também colaborou com o fornecimento de documentos:
“Colaboração não é só de “ouvi dizer”. Tem de apresentar fatos que podem ser comprovados.”
O advogado disse que a corrupção na Petrobras tornou-se endêmica e
estava se transformando em “ameaça ao estado de direito e à democracia”:
“Era uma roda-viva. A ganância e a intimidação dominaram o Estado,
que ficou impassível, sem forças para combater a corrupção. Quem deixa a
corrupção sem combate também está contribuindo para a sua disseminação.
A Petrobras movimenta bilhões, e isso alimentou o esquema. Os políticos
executam obras públicas e precisam do dinheiro para financiar suas
campanhas. Os diretores da Petrobras, indicados por partidos políticos,
montam o esquema para o desvio desse dinheiro, e Youssef era um dos
operadores para lavar esse dinheiro, fazer chegar o dinheiro desviado da
empresa para os políticos se manterem no poder.”
Fonte: O Globo
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