Os direitos ‘represados’ de liberdade de expressão e a necessidade de
um novo modelo de segurança no Campus Central da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN) vêm sendo motivos diários de protesto em
alguns setores de aula da Universidade. O Departamento de Artes (Deart) é
um dos principais alvos das manifestações. Segundo funcionários que
trabalham no local, todos os dias surgem novos atos que “depredam” o
ambiente acadêmico.
As paredes externas e internas do prédio aparecem cheias de frases
delineando tons de protesto, acusações e até ameaças. Uma funcionária do
corpo técnico do Departamento de Artes, com identidade preservada por
esta reportagem, relatou que os servidores temem trabalhar dentro de um
ambiente insalubre e inseguro.
“Nós entendemos que a administração da Universidade está tentando
esgotar suas possibilidades de argumento com os alunos e ex-alunos da
UFRN que vivem incitando esses atos. Na verdade, a reitoria não quer
adotar nenhuma postura agressiva para resolver o problema, mas só quem
está aqui no dia-a-dia sabe do ambiente em que estamos trabalhando”,
conta.
Na semana passada o prédio do Deart passou por serviços gerais de
pintura e reparação. Mas quanto mais se pintam as paredes, mais
pichações vão aparecendo nelas. Uma frase escrita em uma das paredes do
prédio deixa claro a visão de alguns estudantes que vêm protagonizando
os atos: “Nois pixa, vcs pinta. Vamos ver quem tem + tinta”.
Foi lá no Departamento de Artes que um grande número de estudantes
resolveu protestar contra a administração da UFRN, em novembro do ano
passado, chegando a ocupar as dependências do prédio por diversos dias.
Na época, as acusações de criminalização pelas autoridades com relação
às expressões artísticas levantou o debate sobre liberdade de expressão
na Universidade.
Para eles, a UFRN disponibiliza um teatro onde não se pode atuar; uma
sala de dança onde não se pode dançar; uma galeria onde não se pode
expor quadros; um Departamento de Artes que não aceita manifestação
artística. Agora, um novo problema se instalou ente os estudantes de
diversos setores do Campus, que também foi abraçado pelos alunos do
Deart: a segurança terceirizada.
No final do mês de outubro um grupo de estudantes de vários setores
de aula da UFRN ocupou a sala dos colegiados da Universidade, no
primeiro andar do prédio da Reitoria. O motivo: um aluno teria sofrido
uma nova agressão de um segurança terceirizado dentro das dependências
da universidade. Com faixas e barracas armadas no local, os estudantes
queriam que a reitora Ângela Paiva Cruz cumprisse com os compromissos
feitos há dois anos quando houve um episódio semelhante – um suposto
segurança teria apontado arma de fogo para um aluno.
“Ocupamos a reitoria contra as arbitrariedades por parte da equipe de
segurança, tanto a segurança terceirizada, da empresa Garra, quanto do
Departamento Segurança Patrimonial (DSP). Dia nove passado, eles
espancaram um estudante do Setor II. Puxaram seu cabelo, com sinais de
tortura”, contou uma aluna que participou da ocupação.
Nesta sexta-feira (8), uma assembleia de estudantes deverá acontecer
em um acampamento montado por trás do Departamento de Artes. Na
oportunidade, os alunos irão conversar sobre o que precisa ser feito
para que a Universidade atenda as reivindicações. Ontem, sem motivos
aparentes, os acessos do Deart às salas de aula foram fechados. Cursos
de Teatro, Dança, Design e Artes Visuais, que são ministrados lá,
deverão ficar sem aulas até segunda ordem.
“Foi isso que nos informaram, sem nenhuma justificativa. Não sei o
que eles querem com isso. Em nossa assembleia também vamos discutir esse
assunto. Não podemos ficar sem aula, logo no final do ano. São muito
problemas que acontecem conosco e ninguém sabe, até porque o Deart é o
Departamento mais afastado da Universidade. Somos excluídos de tudo. Tem
situações que até o circular deixa de passar por aqui”, disse um aluno
que está acampado no Campus.
O Jornal de Hoje
Nenhum comentário:
Postar um comentário