segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Nove em cada dez municípios em estado de emergência por estiagem estão no Nordeste


O Nordeste concentra nove em cada dez municípios do país que estão com decretos de situação de emergência em vigor atualmente, segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Em toda a região, cerca de 15,8 milhões de pessoas sofrem com os efeitos da estiagem que, segundo meteorologistas, começou em 2012 e já no ano seguinte foi considerada a pior dos últimos 50 anos pela Organização Meteorológica Mundial.

A situação tende a se agravar nos próximos meses. Até abril, as chuvas na região devem ficar abaixo da média histórica, segundo relatório divulgado esta semana pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em maio, já deve ter início a estação seca, com reservatórios quase sem água.

No Ceará, 130 açudes do estado estão operando com menos de 10% da sua capacidade. No geral, o estado tem disponível 20% de toda a possibilidade de armazenamento, segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Até agora, só oito cidades cearenses não decretaram situação de emergência.

O nível do açude que abastece as cidades de Acari e Currais Novos, no Rio Grande do Norte, está em 2%, e a previsão é que o reservatório seque em dois meses, segundo José Procópio de Lucena, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piancó-Piranhas-Açu. A bacia abastece 1,3 milhão de pessoas em 147 cidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba.

— Os reservatórios de pequeno e médio porte já secaram todos. Os reservatórios maiores estão com 20%, quando eram para estar com 50% nessa época do ano — disse Procópio.

Segundo Procópio, cidades da bacia hidrográfica estão sendo abastecidas com caminhão-pipa, prefeituras estão estimulando a perfuração de poços artesianos e os agricultores são orientados a fazer irrigação à noite para evitar a perda da água por evaporação.

Em algumas das cerca de 500 cidades banhadas pelo rio São Francisco, a seca vem acompanhada de outros problemas, como agravamento da pobreza, desmatamento e erosão, segundo o presidente do comitê da bacia hidrográfica local, Anivaldo Miranda. Segundo ele, comunidades ribeirinhas são as que mais sofrem:

— Essa seca atual no Nordeste chegou ao terceiro ano consecutivo e até hoje o poder público não foi capaz de criar estratégias eficientes para combater esse problema. Parece que falar em racionamento é dizer um palavrão, mas não é. É uma chave de segurança.

Caso o nível das represas continue caindo, será preciso garantir o uso da água do São Francisco para consumo humano, diz Miranda:

— Hoje, já temos um conflito com geração de energia e há outro conflito em potencial com a agricultura de exportação.

O Globo

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