Novos dados de satélite mostram que a
seca no Brasil é pior do que se pensava, com o Sudeste perdendo 56
trilhões de litros de água em cada um dos últimos três anos, disse um
cientista da agência espacial dos Estados Unidos (Nasa) nesta
sexta-feira.
A pior seca do país nos últimos 35
anos também tem levado o Nordeste brasileiro, região maior, mas menos
povoada, a perder 49 trilhões de litros de água a cada ano nos últimos
três anos, comparando com os níveis normais, afirmou o hidrólogo da
Nasa, Augusto Getirana.
Os brasileiros estão bastante
conscientes da seca, dado o racionamento de água, blecautes e
reservatórios vazios em partes do país, mas esse é o primeiro estudo que
documenta exatamente a quantidade de água que tem desaparecido dos
lençóis de água e reservatórios, disse Getirana.
"É muito maior do que eu imaginava",
disse Getirana à Thomson Reuters Foundation. "Com as mudanças
climáticas, isso vai acontecer com mais e mais frequência."
O sistema da Cantareira, que fornece
água para 8,8 milhões de moradores de São Paulo, tinha, por exemplo,
menos de 11 por cento da sua capacidade no ano passado, segundo
autoridades locais.
A pesquisa de Getirana, publicada
nesta semana no Journal of Hydrometeorology, tem como base 13 anos de
informações dos satélites Recuperação da Gravidade e Experimento
Climático (Grace, na sigla em inglês) da Nasa, que circulam a Terra
detectando mudanças no campo de gravidade causadas pelos movimentos da
água no planeta.
O país não tem uma falta de água
absoluta, afirmou o pesquisador. O problema é que as regiões muito
povoadas, particularmente o Sudeste, dependem de aquíferos e
reservatórios locais, que não estão sendo reabastecidos devido à seca.
Teoricamente,
a água pode ser transportada de outras partes do país para cidades
afetadas, disse ele, mas os custos financeiros e logísticos seriam
enormes.
As novas informações de satélite
devem representar um chamado de alerta para os políticos gerenciarem
melhor a água e atuarem em relação às mudanças climáticas para lidar com
a crise, declarou Getirana.
Os dados não permitem que os
pesquisadores façam previsões de quanto tempo a seca vai durar, disse
ele, acrescentando que os níveis de água continuaram a cair nos últimos
meses.
Chris Arsenault
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