Quatro quilômetros. Essa é a distância que separa a população de São
José do Seridó do sonho de acabar com a constante falta d'água. Os
quatro mil metros de tubulação do novo sistema adutor da cidade eram
para ter sido entregues no dia 19 de novembro passado, mas um erro no
projeto atrasou a conclusão da obra. Segundo a Companhia de Águas e
Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), o novo sistema de captação,
adução, tratamento e reservação do sistema de abastecimento de água da
de São José deve ser concluído em setembro do próximo ano.
Enquanto aguardam pela adutora, os moradores de São José do Seridó
atravessam um colapso no abastecimento d'água. "Nós dependemos
exclusivamente da chuva para acabar com esse sofrimento. Quando chove,
tem vida. Quando passamos por uma estiagem como a atual, apenas
sobrevivemos", disse o agricultor José Sabino de Medeiros Filho, de 49
anos.
Seu Sabino mora no assentamento Caatinga Grande, zona rural de São José
do Seridó, cidade distante 280 quilômetros de Natal. Enquanto aguarda a
chuva ou a conclusão da adutora, o agricultor contabiliza prejuízos e
perdas. "Para você ter uma ideia, tudo o que plantei no ano passado e
nesse ano eu perdi. Isso porque, sem água, o feijão, o sorgo e o milho
que plantei não vingaram. Para piorar, perdi três vaquinhas e quatro
ovelhas, que morreram de sede", lamentou.
A situação só não foi pior para Sabino porque, ao perceber que que o
quadro da seca estava se agravando, ele decidiu vender parte dos animais
que tinha. "Me desfiz de algumas cabeças para poder ter dinheiro para
comprar ração e água para os outros que ficaram. Mas tenho fé em Deus
que isso irá se resolver em breve".
A água que abastece o assentamento Caatinga Grande vem de carros-pipa.
Essa água serve para para os afazeres da casa. Já a água de beber dos
cerca de 350 moradores é proveniente de um dessalinizador doado pelo
programa Água Doce, do Ministério do Meio Ambiente.
Mesmo assim, a água é pouca e, sem tratamento, não serve para consumo
humano. "A água serve apenas para cuidar dos poucos animais que temos,
para algumas plantinhas e para cuidar da casa. A vida é sofrida para
quem mora aqui. Já pensei em me mudar para a cidade grande, mas meu
marido diz que nasceu aqui e que quer morrer aqui, cuidado da terrinha
dele".A adutora de São José do Seridó vai retirar água da barragem
Passagem das Traíras, que fica no município vizinho de Caicó. Sem ser
beneficiada pela obra, a aposentada Maria Lucidez de Araújo, de 62 anos,
não sofre tanto com o colapso no município. Isso porque o sítio dela
fica a menos de um quilômetro da barragem. "Cansado de esperar pela
adutora, meu marido resolveu construir um sistema para retirar água da
barragem e abastecer nossa casa. Foi a única forma que ele encontrou
para não morrermos de sede", contou.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário