Em 738 municípios brasileiros, mais da metade dos alunos de escola
pública do ensino médio não têm a idade adequada à série em que estuda.
São estudantes com pelo menos dois anos de atraso escolar. Na outra
ponta, 217 de um total de 5,5 mil municípios têm menos de 10% de
estudantes nessas condições.
Os dados são do Censo Escolar do
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A
maior parte dos municípios com distorção idade-série de mais de 50%
(468) está na Região Nordeste. Quando se trata dos municípios com taxa
menor que 10%, a maior parte, 190, está no Sudeste.
Os dados
foram selecionados com o auxílio da plataforma de dados educacionais
QEdu, onde estarão disponíveis para consulta a partir de hoje (2). O
portal é uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann, organização
sem fins lucrativos voltada para a educação.Os dados nacionais mostram
que 32,7% dos alunos brasileiros de escola pública do ensino médio não
têm a idade adequada à série em que estão. Parte desse atraso vem do
ensino fundamental, onde 23,7% estão nessa situação.
Pela Constituição, os estados e o Distrito Federal são responsáveis,
prioritariamente, pelo ensino médio. Segundo a presidenta da União
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho,
os municípios têm um dever de casa: "Esse problema não começa no ensino
médio, começa nos anos finais do ensino fundamental [do 6º ao 9º ano].
Trabalhar na busca ativa é fundamental, tem que abrir o dado e ver onde
está esse aluno. Até para ver se ele tem condição de continuar ou não,
se tem alguma síndrome mais complicada, se está atrasado porque ficou
fora da escola".
Antes disso, ele já tinha sido reprovado no 4º e no 6º ano do ensino
fundamental. "Brinquei demais". Atualmente, mora no Distrito Federal,
voltou a estudar e pretende cursar filosofia para ser professor. "Este
ano, eu faltei um dia por motivo de serviço. Conhecimento é importante
para tudo. Quando eu era mais jovem, só queria curtição, agora penso
diferente. Ninguém vai tirar isso de mim".
No entanto, nem todos
os alunos voltam a estudar. A taxa de abandono no ensino médio em 2012
era 9,1%, a maior do ensino básico regular.
"O atraso escolar é
uma das barreiras que contribuem para que os adolescentes saiam da
escola. A qualidade é o que garante a permanência da escola. Um
currículo que contribua para a formação cidadã, que amplie os
horizontes, em que o adolescente veja sentido no que vê em sala de aula,
que dê vida e significado à vida dele, dentro e fora da sala de aula é
necessário", analisa a oficial do Programa de Educação do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Júlia Ribeiro.
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