Após afirmar que defenderia a jovem flagrada ao gritar "macaco" para o
goleiro Aranha, do Santos, no jogo pela Copa do Brasil em Porto Alegre, o
advogado Guilherme Rodrigues Abrão voltou atrás e não vai mais ficar
com o caso. Ele havia afirmado ao G1 na manhã desta segunda-feira (1), após uma reunião com a jovem, que incluiria seu nome no inquérito policial durante a tarde.
A família de Patrícia Moreira, de 22 anos, diz que Abrão ligou para
dizer que não poderia pegar o caso. Mais cedo, o advogado disse ao G1 que
o fato de ele ser conselheiro do Grêmio não atrapalharia na defesa.
Procurado, o Movimento Grêmio Independente afirmou que Abrão deixou o
grupo político há seis meses.
"Não falo mais do caso da Patrícia, que tenho certeza que será bem
defendida por outro profissional. Não fechamos a contratação. Não vou
ser o advogado dela. Prestei esse auxílio inicial. Fui consultado, mas
daqui para frente a família vai buscar um novo advogado. Não fui
procurado por ninguém do Grêmio sobre isso. Foi uma razão profissional",
ressaltou. Sobre uma possível pressão do clube, ele negou mais uma vez.
"É melhor ter outro profissional para não ter essa relação com o
Grêmio", completou.
Guilherme Abrão é conselheiro do Grêmio desde 2013 e foi membro do
Movimento Grêmio Independente (MGI), que na última segunda-feira lançou
Homero Bellini Junior como candidato à presidência do clube no pleito
que ocorrerá em 8 de outubro. Questionado sobre a saída do movimento, o
advogado preferiu não responder.
Pela manhã, após se reunir com Patrícia, Abrão disse que a jovem estava
arrependida e pretendia se retratar. A jovem de 22 anos chegou ao local
junto com uma amiga e o irmão por volta das 8h45. Bastante nervosa e
assustada, não quis falar ao G1 sobre o episódio e pediu que não fossem tiradas fotos. Ela vestia um casaco preto, quase até o pé, e óculos escuros.
De acordo com o advogado, a garota recebeu ameaças ao longo do fim de
semana, inclusive de estupro, e teve todos os seus dados expostos na
internet. A família também não foi poupada. Uma prima de 14 anos não
pode ir à escola. Após o incidente, sua mãe passou mal.
A Polícia Civil pretende ouvir até o final desta semana a jovem.
Segundo o delegado Herbert Ferreira, responsável pelas investigações,
ela ainda não foi intimada a depor. Além de Patrícia, outro torcedor,
que não teve o nome divulgado, também foi identificado. Eles podem ser
indiciados por injúria qualificada.
Inicialmente, a polícia cogitava ouvir Patrícia ainda nesta segunda,
porém a intimação para interrogatório ainda não foi oficializada.
Segundo o delegado, a tendência é que nesta segunda o comunicado
aconteça. Mesmo assim, ela pode se apresentar espontaneamente.
No domingo (31), os policiais receberam um vídeo de mais de uma hora de
duração com imagens de câmeras de segurança da Arena do Grêmio, que
mostram os possíveis atos relatados pelo jogador. As imagens já
começaram a ser analisadas pelo delegado.
"Além do vídeo, temos também fotos. Vamos ver se amanhã [terça] já
conseguimos intimá-la. No máximo até o final dessa semana. O outro
torcedor que já identificamos também. Tem mais gente para ser
identificada. No depoimento do Aranha, ele foi bem claro ao dizer que
várias pessoas o xingaram. Vamos analisar as imagens para saber quem
são", disse Ferreira.
Patrícia Moreira foi afastada do trabalho no Centro Médico e
Odontológico da Brigada Militar. Ela era funcionária de uma empresa
terceirizada e prestava serviços de auxiliar de odontologia na clínica
da polícia militar gaúcha. As imagens da torcedora ofendendo o goleiro
santista começaram a circular pelas redes sociais logo após a partida.
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