Considerado o homem mais rico do Brasil apenas dois anos
atrás, Eike Batista diz ter hoje um patrimônio líquido de US$ 1 bilhão
negativo. O tombo veio a reboque da derrocada da OGX, petroleira do
grupo X, que pediu recuperação judicial em outubro do ano passado. Hoje,
após ter virado réu em ação penal da Justiça Federal, o empresário
quebrou o silêncio de quase um ano, garantindo trabalhar diariamente
pela reestruturação de suas companhias.
— Coloquei todo o meu patrimônio nas empresas. Ele garante
empréstimos e negócios do grupo. O problema localizado em uma delas, a
OGX, contaminou todo o sistema. O fato do petróleo não ter a
produtividade esperada se tornou a raiz de toda essa corrida bancária.
E, quando se perde a credibilidade de uma empresa pública, você é
massacrado — afirmou o empresário em entrevista ao GLOBO.
Apesar da crise no grupo e da corrida pela manutenção e
recuperação das companhias e de seus ativos, Eike afirma que não haveria
um caminho diferente do que percorreu. Se pudesse voltar atrás, afirma
que fechar o capital da OGX (hoje OGPar) poderia ter sido a escolha mais
acertada.
— No todo, não poderia ter sido diferente. Eu acreditava no
negócio. Não tinha como não ser otimista com os dados que eu tinha em
mãos. Ninguém no mundo tem uma participação tão grande numa empresa de
petróleo. Talvez, uma das minhas falhas tenha sido que, no tempo certo,
eu deveria ter literalmente fechado o capital da OGX, usado private equity.
O Porto do Açu subiu ao posto de principal joia do grupo,
substituindo a antiga posição da OGX. A cada questionamento sobre a
situação do grupo, o empresário se agarra ao potencial do projeto, que
está muito aquém do prometido quando foi lançado. Ainda assim é citado
por Eike como a maior aposta para atrair investidores e novos negócios.
Em cinco a dez anos, ele espera não só conseguir pagar sua dívida, como
ter 20% de participação no Açu e colocar seu patrimônio novamente no
azul.
— Acho que tocar cinco companhias juntas é muita coisa.
Também acho que seria mais fácil não ter capital aberto, o que nos daria
de sete a dez anos para trabalhar, já que o grupo tem projetos de
infraestrutura de longo prazo.
Apesar do tombo, Eike mantém um discurso calibrado de que
não é pessimista em relação ao futuro do grupo, que soma duas empresas
em recuperação judicial, a OGX e a OSX (ainda em vias de aprovação do
processo), além de ter vendido outras companhias e outros ativos. A LLX,
de logística, foi rebatizada como Prumo, tendo passado às mãos da
americana EIG; a MPX, de energia, rebatizada como Eneva, tem a alemã
E.ON. como sócia majoritária.
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— O foco é reerguer o negócios. Não dá para investir em
novas frentes. Estamos nos recuperando. Os investidores estrangeiros
encaram esse movimento como natural.
Ironicamente, o empresário que sempre afirmou acreditar no
país, vê agora a maior parte de seus negócios passarem para as mãos de
investidores estrangeiros. Eike afirma segue trabalhando, sem jamais ter
considerado a possibilidade de deixar o grupo ou o Brasil. Ontem, por
determinação da Justiça, ele teve R$ 117 milhões em ativos bloqueados.
— Fui educado como um jovem de classe média. E a gente não perde isso — afirmou.
O Globo
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