A inusitada passagem dos
construtores de obras e de imoralidades públicas pela cadeia inaugurou
uma nova etapa na CPI mista da Petrobras. Antes monolítico, o bloco do
governo trincou. Nesta terça-feira, cada partido cuidou dos seus
próprios fios desencapados. E a oposição, jogando um contra o outro,
obteve um curto-circuito que fez a comissão ingressar na fase do
salve-se quem puder. Eletrocutaram-se os interesses dos dois sócios
majoritários do governo: PT e PMDB.
Quem saiu mais tostado foi o tesoureiro
do PT, João Vaccari Neto. Acusado de recolher propinas na Petrobras em
nome do seu partido, Vaccari terá os seus sigilos bancário, fiscal e
telefônico varejados pela CPI. Supreendido, o petismo agora quer
arrastar para o banco da CPI os tesoureiros de todos os partidos. Alega
que as principais agremiações receberam verbas das empreiteiras
encrencadas na operação Lava Jato.
Em termos práticos, a CPI da Petrobras
tornou-se uma inutilidade levada às últimas consequências. Deputados e
senadores forçam portas já arrombadas. Fingem investigar mutretas que já
estão em adiantado estágio de elucidação na Procuradoria da República,
na Polícia Federal e na mesa do juiz federal Sérgio Moro. Além de já
existir, a investigação oficial deu frutos. Levará ao banco de réus
corruptos, corruptores, intermediários e dezenas de políticos.
Ainda assim, a CPI oferece um
desnudamento divertido. A quebra dos sigilos de Vaccari fez o
vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp, remexer-se na cadeira.
Disse que, ao mexer com o tesoureiro do PT, a CPI convulsiona ainda mais
a situação dos partidos. “A coisa vai ficar pior ainda”, vaticinou,
antes de lembrar aos seus pares que os tesoureiros não são senão
representantes dos partidos. “Qual é o papel do tesoureiro? Arrecadar
fundos legais para campanhas!”
Wellington Dias avisou que o PT exigirá a
votação de requerimento que arrasta para a CPI os tesoureiros de todos
os partidos. Antes, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), 100%
aliada do petismo, dissera que, excetuando-se o PSOL, todos os partidos
carregam em suas caixas registradoras verbas das empreiteiras enroladas
na operação Lava Jato. Ela lembrou que até Sérgio Guerra, o
ex-presidente morto do PSDB, foi acusado de receber uma Youssefiana R$
10 milhões.
Em meio a esse lufa-lufa, os
oposicionistas lograram convocar quatro personagens incômodos para os
governistas: um afilhado de Renan Calheiros, Sérgio Machado (licenciado
da Transpetro); um suposto coletor do PT, Renato Duque (ex-diretor de
Serviços da Petrobras); um híbrido petista-peemedebista, Nestor Cerveró
(ex-diretor Internacional); e um preposto do PP, Paulo Roberto Costa
(ex-diretor de Abastecimento). Deseja-se submeter Cerveró e Paulo
Roberto a uma acareação.
Notícia vinda de Curitiba fez correr um
frêmito na CPI: o advogado de Fernando Soares, o Fernando Baiano, avisou
que ele se entregaria à Polícia Federal na capital paranaense. Algo
que, de fato, ocorreu. Foragido há quatro dias, ele é apontado como
intermediador de propinas para o PMDB. Valdir Raupp, o vice-presidente
do partido de Michel Temer, foi ao microfone da CPI: “A mídia brasileira
está dizendo que o PMDB tinha um operador. O partido nunca teve
operador”.
Informado de que o plenário do Senado
abrira a pauta de votações, o presidente da CPI, Vital do Rêgo
(PMDB-PB), encerrou a sessão da CPI. Wellington Dias reiterou que o PT
quer votar na próxima reunião a convocação de “todos os tesoureiros”.
Ficou boiando na atmosfera a pergunta do senador petista: “Aonde nós
vamos chegar?” A resposta é simples: mesmo que seja prorrogada até o
final de dezembro, a CPI não irá muito longe. Talvez nem saia do lugar.
vai sair do lugar. A diferença é que, dessa vez, a Procuradoria, a PF e a
Justiça Federal evitarão que a plateia seja feita novamente de boba.
Josias de Souza, UOL
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